sábado, 19 de fevereiro de 2011

A MÃO MODELADORA DE DEUS - Jeremias 18

Imagine como nossa vida mudaria se não dispuséssemos de recipientes para guardar e estocar absolutamente nada: nenhuma panela ou vasilha, tigela ou prato, jarra ou balde; nenhuma lata ou barril, caixa de papelão ou saco de papel, nenhum silo para grãos ou tanques para óleo. A vida seria reduzida aquilo que pudéssemos manipular e consumir num único dia. Os objetos de cerâmica produzidos pelo oleiro tornaram possível o desenvolvimento das comunidades. A vida se estendeu além do imediato e do urgente. Há outro aspecto igualmente importante. Ninguém jamais conseguiu fazer um vaso de cerâmica que fosse apenas isso. Todo objeto de cerâmica é também uma obra de arte. É uma arte que está sempre mudando suas formas artísticas na medida em que os oleiros descobrem novas proporções e maneiras diferentes de modelar os vasos em combinações harmoniosas de curvas. Não existe nenhum produto de cerâmica que, além de sua utilidade, não evidencie também uma expressão de beleza. Os produtos de cerâmica são artisticamente projetados, modelados, pintados, vitrificados e queimados. A cerâmica representa um dos itens mais funcionais da vida, além de ser um dos mais bonitos. Cada ser humano é uma união indivisível de necessidade e liberdade. Não há nenhum ser humano que não seja útil, que não tenha uma participação a assumir na obra de Deus. E não existe nenhum ser humano que não seja único, com linhas, formas e cores especiais e distintas de todos os outros. O profeta Jeremias foi chamado a descer à casa do oleiro. Ali ele viu o oleiro trabalhando sobre as rodas, moldando o barro e fazendo dele um vaso. A materialidade grosseira do barro, pesado e inerte, moldado com um propósito pelas mãos do oleiro, e então, à medida que o vaso adquire forma, a descoberta de sua individualidade projetada de modo exclusivo e a vasta utilidade que o vaso iria adquirir quando estivesse terminado, pintado, queimado e vitrificado. O vaso se estraga nas mãos, mas em vez do oleiro jogar o vaso fora, fez dele um vaso novo. É uma parábola que Deus usou para trazer uma mensagem ao reino de Judá.

NA CASA DO OLEIRO

Na lição anterior vimos que as reformas empreendidas por Josias produziu mudanças aparentes, somente no exterior e não mudanças profundas e significativas na vida da nação. Na casa do oleiro Deus se dá a conhecer:

1. O SENHOR é um Deus ciumento.

A Lei dada a Moisés nos diz: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso (Ex 20.2-5). Uma pessoa não pode seguir a Deus e, ao mesmo tempo, repartir sua fé com outros deuses. Este é o ensino claro de Jesus: Mt 6.24. O rev. J. Stott afirma “que algumas pessoas pensam que podem servir a dois senhores, e que podem conciliar isto muito bem. Servem a Deus aos domingos e a mamom dirante a semana, ou a Deus com os lábios e a mamom com o coração, ou a Deus na aparência e a mamom na realidade, ou a Deus com a metade de suas vidas e a mamom com a outra”.

2. O SENHOR é um Deus justo.

A Bíblia é muito clara ao nos ensinar que não se pode fazer o que se deseja sem medir as conseqüências: Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas” (Ec 11.9). Não se pode pecar impunemente: Obadias 1.15; Jeremias 17.10 e Gálatas 6.7,8. Às vezes Deus não corrige imediatamente, o que nos leva a pensar que Ele não acertará as contas conosco. No entanto, não nos esqueçamos que um dos atributos de Deus é a imutabilidade: Ml 3.6. E a Palavra de Deus nos ensina que Ele odeia o pecado hoje, como sempre odiou. Isaías 61.8; Amós 6.8. Quem faz o que quer recebe o que não quer: 2 Pedro 3.1-13. O povo se revelava ainda idólatra, rejeitaram a Deus, Sua Palavra e Sua aliança e, por isso, experimentariam o juízo de Deus: “Portanto, Jeremias, diga ao povo de Judá e aos moradores de Jerusalém que estou fazendo planos contra eles e me preparando para castigá-los. Diga que deixem de fazer o que é mau e que melhorem a sua maneira de viver e de agir” (Jr 18.11).

LIÇÕES PRECIOSAS

O rev. Hernandes Dias Lopes enumera duas lições preciosas que aprendemos aqui:

1. Deus não desiste de você, mesmo quando você falha em cumprir seu propósito (Jr 18.4). O oleiro não jogou no lixo o vaso que se lhe havia estragado nas mãos. Ele não o colocou num canto como algo imprestável. Ele não desistiu desse vaso, mas fez dele um vaso novo. Assim, também, Deus não desiste de você. Mt 12.20.

2. Deus não faz apenas remendos em sua vida; ele faz de você um vaso novo (Jr 18.4). O oleiro não remendou o vaso que se lhe havia estragado nas mãos. Ele não se contentou com meias medidas. Ele fez um vaso novo. A obra de Deus em você é completa. Ele faz de você uma nova criatura. Ele não quer apenas uma reforma externa, um verniz de aparência. Ele quer dar-lhe uma nova vida, uma nova mente, um novo coração, uma nova família, uma nova pátria. Deus tem para você uma vida nova, com novos gostos, novas preferências, novos alvos, novos sonhos, novos compromissos. A vida com Cristo é novidade de vida. É vida santa, é vida no altar, é vida cheia do Espírito, é vida abundante, maiúscula, superlativa, eterna. A obra de Cristo em você é um milagre extraordinário

DISCERNIMENTO - Jeremias 7.1-15

Assistimos hoje um crescente número de evangélicos em nosso país. Ser crente, ou mais especificamente ser gospel, está na moda. Contudo, qual impacto que este crescimento tem causado na sociedade brasileira? Quais mudanças têm-se observado?

Thomas Kempis declarou:

Há muitas pessoas hoje que amam o reino celestial de Jesus, porém poucas que carregam a sua cruz; muitas ansiando por conforto, mas poucas que suportam sofrimentos. Longa é a fila das pessoas que compartilham de seu banquete, porém curta é a fila dos que compartilham de seu jejum. Todos desejam tomar parte em seu júbilo, mas somente poucos estão dispostos a sofrer por sua causa. Há muitos que seguem a Jesus até o partir do pão, poucos quando o momento é de beber o cálice do sofrimento. Muitos que reverenciam seus milagres, poucos que seguem na indignidade de sua cruz. Com base na mensagem de Jeremias à Judá nos dias da reforma religiosa imposta pelo rei Josias o nosso objetivo é:

1. Avaliar a nossa fé com base no impacto que causamos nas pessoas que nos cercam;

2. Estimular a vivenciarmos um cristianismo autêntico como Jeremias.

I. Jeremias

Josias tornou-se rei aos 8 anos de idade e em seu reinado observamos um rei que se preocupou em obedecer a Deus. Josias era aproximadamente da mesma idade de Jeremias. Era filho de Amom e neto de Manassés. Tanto seu pai como seu avô fizeram “o que é mau perante o Senhor”. E. Peterson observa que “Manassés foi o pior dos reis a reinar sobre os hebreus. Ele foi um homem totalmente mau à frente de um governo completamente corrupto. Ele reinou em Jerusalém por 55 anos, uma metade de século maligna e sombria”.

Þ Ele incentivou a prática de cultos pagãos

Þ Ele instituiu prostitutas em santuários espalhados por todo o país

Þ Ele importou mágicos e feiticeiros 2 Reis 21.5,6

Þ Amom andou nos caminhos de seu pai: 2 Rs 21.20, 21

“Jeremias nasceu na última década do reinado de Manassés. Este era o mundo onde Jeremias aprendeu a andar, falar e brincar. Não há como imaginar um lugar pior e mais impróprio para uma criança crescer. Era uma sociedade completamente pervertida”.

II. As reformas de Josias

Deus usou Josias para trazer vida nova ao povo de Deus. Ele começou a restauração por uma faxina completa no templo. As vidas das pessoas são reflexos do culto que praticam. Por mais de 55 anos, a violência e a luxúria nas dependências da casa do Senhor, ultrapassaram os limites daquele local e corromperam as vidas, ruas e lares da nação. Encontrar o livro de Deuteronômio foi fundamental para que as reformas ocorressem. Embora tenha sido a profetisa Hulda a interpretar a Lei do Senhor ao Rei e não tenhamos muitos indícios da participação de Jeremias nessa reforma, não creio que ele tenha ficado como um mero espectador. Encontramos fragmentos de alguns de seus sermões: Jr 3.2. Jeremias rogava ao povo: Jr 4.3; 4.30 e 6.16. “A pregação de Jeremias foi incansável na divulgação desta verdade óbvia e cristalina: que Deus está entre nós, que podemos e devemos viver em amor fiel a Ele”.

III. Apenas uma reforma superficial

Logo após o término da reforma, Jeremias pode perceber que tais mudanças fora apenas de fachada, sem profundidade. Tudo parecia ter mudado, mas, na essência, nada realmente mudara. Tanto é verdade que, após a súbita morte de Josias, os velhos males que o rei eliminara voltaram nos dias de Jeoacaz.

Conclusão

Palavras são importantes. O que dizemos e a maneira como dizemos expressa o que há de mais pessoal em nós. Mas a repetição irrefletida de palavras sagradas não cria um relacionamento pessoal. “Ir à igreja para cantar hinos não nos torna mais santos como, da mesma forma, ir a uma cocheira e relinchar não nos transforma em um cavalo”. O exterior é muito mais fácil de se reformar do que o interior. Ir à igreja e declamar diante das pessoas as palavras certas é muito mais fácil do que desenvolver uma vida de justiça e amor entre pessoas com quem trabalhamos e vivemos. Aparecer na igreja uma vez por semana e repetir “Amém!” com entusiasmo é bem mais fácil do que se engajar em uma vida diária de oração e meditação na Palavra de Deus, que se transforma numa atitude de envolvimento e cuidado com a pobreza e a injustiça, a fome e a guerra. Vivemos em uma cultura onde um recomeço é muito mais atraente do que uma dedicação longa e persistente sem fraquejar.

DECLARANDO-SE INCAPAZ

Deus chamou Jeremias para uma missão relevante e difícil: ser profeta. Deveria convocar a nação a viver de forma certa e anunciar o juízo de Deus sobre ela. Qual é a reação de Jeremias diante desta missão? Como Deus o treinou para realizar esta tarefa? O que podemos aprender com Jeremias? São estas as questões que queremos responder nesta lição.

I. Alegando Incapacidade

Qual foi a reação inicial de Jeremias ao chamado de Deus para sua vida (v. 6)? Se alguém nos pede para fazermos algo e nós temos certeza que não somos aptos a fazê-lo, seria tolice aceitarmos tal tarefa, pois a situação ficaria embaraçosa. Mas Deus pediu a Jeremias que assumisse uma missão impossível para ele. Naturalmente ele recusou. Jeremias recusou o chamado para ser profeta. Com certeza nenhuma tarefa seria mais importante do que apresentar as verdades de Deus. Mas Jeremias recusou por dois motivos básicos: ele não se sentia qualificado e não tinha experiência para tal missão. “Ah! Soberano Senhor! Eu não sei falar, pois ainda sou muito jovem” (Jr 1:6). Existe um abismo entre nossa própria avaliação das nossas capacidades e o chamado de Deus. Nossos pensamentos sobre o que podemos ou desejamos fazer são triviais; os pensamentos de Deus a nosso respeito são grandiosos. O chamado de Deus para que Jeremias se tornasse um profeta é comparável ao chamado que recebemos para nos tornarmos pessoas diferentes e influentes no meio em que vivemos. As desculpas que apresentamos são pertinentes; muitas vezes são declarações de fato, mas de qualquer forma são desculpas e, como tais, são desaprovadas ou vetadas pelo nosso Senhor que diz: “Não diga que é muito jovem. A todos a quem eu o enviar, você irá e dirá tudo o que eu lhe ordenar. Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo” (Jr 1:7-8).

II. As visões de Jeremias

Como Deus renovou em Jeremias a confiança de que seria capaz de ser seu profeta (vs. 7 a 10)? O conforto que Jeremias recebe de Deus não parece muito animador para nós. Deus não nos envia para uma vida ativa porque somos qualificados, mas sim nos escolhe e nos capacita. Mesmo assim Deus deixa claro para o profeta que, se ele aceitasse seu chamado, a sua presença o protegeria e o sustentaria. Nesse diálogo, Deus mostrou duas visões a Jeremias (vs. 11 a 16). Qual o significado da visão nos versos 11 e 12? E qual o significado nos versos 13 a 16? Ambas as visões podem parecer estranhas para nós, mas cada uma delas comunicou algo vital e profundo para Jeremias.

2.1. Uma vara de amendoeira

Uma vara de amendoeira é primeira das visões. A amendoeira é uma das árvores que floresce mais cedo na Palestina. Antes de estender as folhas, flores brancas como a neve, desabrocham. Enquanto a terra ainda está sob o efeito gélido do inverno, surgem as flores da amendoeira, prenunciando a chegada da primavera. Portanto, é um sinal do que está por vir. É uma antecipação, é uma promessa. Deus afirma: “porque eu velo sobre minha palavra para a cumprir”. Estas palavras, como a flor da amendoeira, são promessas, uma antecipação do que está para acontecer. Deus promete a Jeremias que cuidará tanto dele quanto da mensagem que deve ser entregue. E as palavras de Deus são especiais. São promessas que sempre se cumprem. Ele realiza o que anuncia. Deus cumpre o que diz.

2.2. Uma panela de água fervente

A segunda visão é a de uma panela de água fervente. A panela encontrava-se inclinada de modo que a água fervente estava sendo derramada sobre o sul. Jerusalém estava diretamente no curso das águas. As nações ao norte de Israel estavam engendrando uma guerra contra os israelitas que, ao eclodir, iria inundar a terra com o mal. Judá iria sofrer as consequências. E isto estava relacionado com o juízo de Deus sobre a nação. A água fervente irá lavar a terra. O julgamento escaldante estava para acontecer porque o povo tinha abandonado o relacionamento de amor com Deus e se envolvido com rituais religiosos a deuses estranhos e vãs idolatrias (Jr 1.16). A guerra viria para interromper aquele modo de via inútil, tolo, impuro e indolente, obrigando-o a voltar seus olhos para o que é essencial e eterno. Embora a visão fosse negativa, a mensagem era positiva. Havia ali duas explicações reconfortantes para Jeremias: primeiro, o mal a caminho estava sob controle de Deus e, segundo, ele tinha limites. “O mal que retém sua poderosa garra sobre todos não é selvagem ou incontrolável; é um julgamento cuidadosamente ordenado por Deus, cujo comandante é Deus (...) O grande paradoxo do julgamento divino é que o maligno é utilizado como combustível no forno da salvação”, afirmou Eugene Peterson.

Conclusão

Jeremias foi constituído como profeta diante das nações (v. 5). E quanto a você, para que Deus o nomeou? Talvez não seja algo tão influente quanto o chamado de Jeremias, mas Deus tem uma aventura única e original para cada um de nós. Você pode ser uma testemunha viva do amor de Deus dentro de sua casa, no seu trabalho e em qualquer lugar onde você esteja. Muitas vezes somos levados a dizer não ao chamado de Deus, tentado justificar nossa incapacidade. Podemos dizer: sou muito jovem, sou um leigo, não tenho tempo. Quais razões você tem usado para resistir ao chamado de Deus para sua vida?

Introdução: Como você competirá com os cavalos?

Vivemos num mundo decadente, marcado pelos males e corrupções dos últimos dias enumerados pelo apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.1-9. E neste mundo conturbado somos desafiados a ser sal da terra e luz do mundo. Isto implica em enfrentar oposição, ser rejeitado e desprezado e, muitas vezes, por aqueles a quem nós amamos. Assim, diante dos desafios que a vida cristã nos impõe, muitos tropeçam e desviam-se do caminho. O poeta sacro afirma: “Quantos que corriam bem, de Ti longe agora vão!” Como viver de forma relevante? Como ter uma vida significativa? Creio que a melhor maneira de responder a esta questão é observando a vida do profeta Jeremias. Eugene Peterson escreveu: “O livro de Jeremias deixa claro que a excelência é resultado de uma vida de fé, de estar mais interessado em Deus do que em si mesmo, e que tem pouco a ver com auto-estima, conforto ou realizações”[1]. Nesta série de estudos selecionamos passagens biográficas do livro de Jeremias para refletirmos nelas, conhecendo melhor a vida de Jeremias, de modo que sejamos tomados por uma contínua insatisfação por tudo que não expresse o nosso melhor e compreender que só podemos ser relevantes por intermédio de uma fé radical em Deus. Que o Senhor nos ajude nesta jornada!

I. O Contexto histórico

A história de Jeremias cobre um período de 40 anos, desde o seu chamado em 626 a.C. até 586 a.C. com a queda de Jerusalém. Jeremias profetizou sob os últimos cinco reis de Judá: Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias. Este “foi um dos períodos mais movimentados da história do antigo Oriente”[2]. O domínio assírio gradualmente enfraquecia-se. A queda da cidade de Assur perante os medos em 614 a.C. e a destruição de Nínive pelas forças aliadas da Média e da Babilônia em 612 a.C. eram provas disto. Com este declínio Judá (o Reino do Sul) desfruta de certa “liberdade”, e renasce um sentimento nacionalista, que logo se esfria com a morte do Rei Josias. Em conseqüência disto, o Egito e a Babilônia disputam a hegemonia sobre o Oriente. Em 605 a.C., na famosa batalha de Carquemis, Nabucodonosor desbaratou o exército egípcio sob a liderança do Faraó Neco e temporariamente põe fim a ambição do Egito de dominar o Oriente. A partir daí Judá passou automaticamente ao controle da Babilônia. E em 586 a.C., com a traição de Zedequias, rei de Judá, Nabucodonosor invadiu Jerusalém, destruindo o templo de Salomão, matando os filhos do rei e após o cegarem, o levaram cativo à Babilônia. E definitivamente a Babilônia assume a liderança do Oriente.

II. O Profeta Jeremias

Jeremias nasceu no povoado de Anatote. Este povoado distante 4,5 km a nordeste de Jerusalém pertencia à tribo de Benjamin. Era filho do sacerdote Hilquias, da casa de Eli. O significado do seu nome é incerto. Há duas possibilidades. “Javé ou o Senhor exalta” ou “Javé ou o Senhor é sublime (no sentido de fazer nascer)”. Este nome era bastante comum nos tempos bíblicos. Jeremias foi conhecido como “o profeta das lágrimas” devido aos seus sofrimentos diante da conduta do seu povo e com o julgamento que este sofreu. Era um homem de Deus, sensível a toda influência espiritual e pelo conteúdo de sua pregação (...) era homem de notáveis contrastes. Era ao mesmo tempo gentil e tenaz, afetuoso e inflexível. Nele, as fraquezas da carne contendiam com as energias do espírito”[3]. Sua mensagem consistiu “numa série de severas advertências a Judá, no sentido de abandonar a idolatria e o pecado para evitar a catástrofe do exílio”[4]. Por boa parte de sua vida Jeremias incomodou muita gente, assim muitos tentaram calar a sua boca.

III. Corra com os cavalos[5]

As qualidades cativantes da personalidade de Jeremias são sua bondade, sua virtude, sua excelência. Ele viveu do melhor modo possível. Não demonstrava nenhuma piedade artificial, pois experimentou esmagadoras tempestades de hostilidade e furiosas investidas de dúvidas amargas. Não existe nenhum traço de presunção, complacência ou ingenuidade em Jeremias – cada músculo do seu corpo foi distendido até o limite pela fadiga, cada pensamento de sua mente submetido à rejeição, cada sentimento de seu coração passou pelas chamas do ridículo. Bondade para Jeremias não significava “ser amável”, era algo mais parecido com coragem ou bravura. Há uma passagem na vida do profeta quando, esmagado pela oposição e mergulhado em autopiedade, ele esteve à beira de entregar-se à morte interior. O profeta estava pronto a abandonar sua singular vocação divina e transformar-se num simples dado estatístico, um morador a mais em Jerusalém. Nesse momento crítico, ele ouviu a reprimenda: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5). A vida é difícil Jeremias. Você vai desistir na primeira onda de oposição? Vai recuar ao descobrir que existe mais na existência do que três refeições diárias por dia e um lugar seguro para dormir à noite? Vai correr para casa assim que constatar que a grande maioria dos homens e mulheres está mais interessada em preservar seu conforto do que arriscar-se para a glória de Deus? Vai viver cautelosamente ou corajosamente? Eu o chamei para viver da melhor maneira possível, para ir ao encalço da retidão, para manter o curso em direção a excelência. É mais fácil descansar nos braços confortáveis da normalidade. Mais fácil, mas não melhor. Mais fácil, mas não mais significativo. Mais fácil, mas não mais pleno de satisfação. No meu entender, é pouco provável que Jeremias tenha respondido rápida e espontaneamente à pergunta de Deus. Os ideais arrebatadores de uma vida nova haviam sido borrifados pelo cinismo do mundo. O ímpeto eufórico do entusiasmo juvenil não mais o impulsionava. O profeta pesava as opções. Computava o custo. Inquietava-se e sentia-se perturbado e hesitante. A resposta, quando finalmente surgiu, não foi verbal, mas biográfica. Sua vida tornou-se a sua resposta: “Eu competirei com os cavalos”.

Conclusão

Os desafios da vida cristã são muitos. Podemos sucumbir ante estes desafios ou viver uma vida ímpar e relevante. Jeremias nos diz que a excelência na vida cristã é possível àqueles que se laçam a uma vida de fé.


[1] Corra com os Cavalos, p.15.

[2] Novo Dicionário da Bíblia, p.794.

[3] NDB, p.797.

[4] Archer, G., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p.408.

[5] Este tópico é parte do livro de Eugene Peterson.