Vivemos num mundo decadente, marcado pelos males e corrupções dos últimos dias enumerados pelo apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.1-9. E neste mundo conturbado somos desafiados a ser sal da terra e luz do mundo. Isto implica em enfrentar oposição, ser rejeitado e desprezado e, muitas vezes, por aqueles a quem nós amamos. Assim, diante dos desafios que a vida cristã nos impõe, muitos tropeçam e desviam-se do caminho. O poeta sacro afirma: “Quantos que corriam bem, de Ti longe agora vão!” Como viver de forma relevante? Como ter uma vida significativa? Creio que a melhor maneira de responder a esta questão é observando a vida do profeta Jeremias. Eugene Peterson escreveu: “O livro de Jeremias deixa claro que a excelência é resultado de uma vida de fé, de estar mais interessado em Deus do que em si mesmo, e que tem pouco a ver com auto-estima, conforto ou realizações”[1]. Nesta série de estudos selecionamos passagens biográficas do livro de Jeremias para refletirmos nelas, conhecendo melhor a vida de Jeremias, de modo que sejamos tomados por uma contínua insatisfação por tudo que não expresse o nosso melhor e compreender que só podemos ser relevantes por intermédio de uma fé radical em Deus. Que o Senhor nos ajude nesta jornada!
A história de Jeremias cobre um período de 40 anos, desde o seu chamado em 626 a.C. até 586 a.C. com a queda de Jerusalém. Jeremias profetizou sob os últimos cinco reis de Judá: Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias. Este “foi um dos períodos mais movimentados da história do antigo Oriente”[2]. O domínio assírio gradualmente enfraquecia-se. A queda da cidade de Assur perante os medos em 614 a.C. e a destruição de Nínive pelas forças aliadas da Média e da Babilônia em 612 a.C. eram provas disto. Com este declínio Judá (o Reino do Sul) desfruta de certa “liberdade”, e renasce um sentimento nacionalista, que logo se esfria com a morte do Rei Josias. Em conseqüência disto, o Egito e a Babilônia disputam a hegemonia sobre o Oriente. Em 605 a.C., na famosa batalha de Carquemis, Nabucodonosor desbaratou o exército egípcio sob a liderança do Faraó Neco e temporariamente põe fim a ambição do Egito de dominar o Oriente. A partir daí Judá passou automaticamente ao controle da Babilônia. E em 586 a.C., com a traição de Zedequias, rei de Judá, Nabucodonosor invadiu Jerusalém, destruindo o templo de Salomão, matando os filhos do rei e após o cegarem, o levaram cativo à Babilônia. E definitivamente a Babilônia assume a liderança do Oriente.
II. O Profeta Jeremias
Jeremias nasceu no povoado de Anatote. Este povoado distante 4,5 km a nordeste de Jerusalém pertencia à tribo de Benjamin. Era filho do sacerdote Hilquias, da casa de Eli. O significado do seu nome é incerto. Há duas possibilidades. “Javé ou o Senhor exalta” ou “Javé ou o Senhor é sublime (no sentido de fazer nascer)”. Este nome era bastante comum nos tempos bíblicos. Jeremias foi conhecido como “o profeta das lágrimas” devido aos seus sofrimentos diante da conduta do seu povo e com o julgamento que este sofreu. Era um homem de Deus, sensível a toda influência espiritual e “pelo conteúdo de sua pregação (...) era homem de notáveis contrastes. Era ao mesmo tempo gentil e tenaz, afetuoso e inflexível. Nele, as fraquezas da carne contendiam com as energias do espírito”[3]. Sua mensagem consistiu “numa série de severas advertências a Judá, no sentido de abandonar a idolatria e o pecado para evitar a catástrofe do exílio”[4]. Por boa parte de sua vida Jeremias incomodou muita gente, assim muitos tentaram calar a sua boca.
III. Corra com os cavalos[5]
As qualidades cativantes da personalidade de Jeremias são sua bondade, sua virtude, sua excelência. Ele viveu do melhor modo possível. Não demonstrava nenhuma piedade artificial, pois experimentou esmagadoras tempestades de hostilidade e furiosas investidas de dúvidas amargas. Não existe nenhum traço de presunção, complacência ou ingenuidade em Jeremias – cada músculo do seu corpo foi distendido até o limite pela fadiga, cada pensamento de sua mente submetido à rejeição, cada sentimento de seu coração passou pelas chamas do ridículo. Bondade para Jeremias não significava “ser amável”, era algo mais parecido com coragem ou bravura. Há uma passagem na vida do profeta quando, esmagado pela oposição e mergulhado em autopiedade, ele esteve à beira de entregar-se à morte interior. O profeta estava pronto a abandonar sua singular vocação divina e transformar-se num simples dado estatístico, um morador a mais em Jerusalém. Nesse momento crítico, ele ouviu a reprimenda: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5). A vida é difícil Jeremias. Você vai desistir na primeira onda de oposição? Vai recuar ao descobrir que existe mais na existência do que três refeições diárias por dia e um lugar seguro para dormir à noite? Vai correr para casa assim que constatar que a grande maioria dos homens e mulheres está mais interessada em preservar seu conforto do que arriscar-se para a glória de Deus? Vai viver cautelosamente ou corajosamente? Eu o chamei para viver da melhor maneira possível, para ir ao encalço da retidão, para manter o curso em direção a excelência. É mais fácil descansar nos braços confortáveis da normalidade. Mais fácil, mas não melhor. Mais fácil, mas não mais significativo. Mais fácil, mas não mais pleno de satisfação. No meu entender, é pouco provável que Jeremias tenha respondido rápida e espontaneamente à pergunta de Deus. Os ideais arrebatadores de uma vida nova haviam sido borrifados pelo cinismo do mundo. O ímpeto eufórico do entusiasmo juvenil não mais o impulsionava. O profeta pesava as opções. Computava o custo. Inquietava-se e sentia-se perturbado e hesitante. A resposta, quando finalmente surgiu, não foi verbal, mas biográfica. Sua vida tornou-se a sua resposta: “Eu competirei com os cavalos”.
Conclusão
Os desafios da vida cristã são muitos. Podemos sucumbir ante estes desafios ou viver uma vida ímpar e relevante. Jeremias nos diz que a excelência na vida cristã é possível àqueles que se laçam a uma vida de fé.
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